Suas roupas ficaram nas gavetas também. Continuaram ali, intactas, até o dia em que a coragem surgiu em mim e arrumei tudo em algumas malas, enfiei no carro e levei até a casa da sua mãe. Falando nela, ela me abraçou e se desculpou comigo. Chorou, a coitada, como se tivesse mesmo alguma culpa no tipo de cara que você tinha se transformado. Eu a tranquilizei. Você decidiu ser um babaca por conta própria, sem precisar de nenhum trauma ou exemplo em casa para isso. Ela se desculpou mais uma vez mesmo assim.
Na minha casa, que antes, um dia, foi tão nossa, ficou apenas seu antigo computador. Deixei ali, na mesa do escritório onde você trabalhava quando estava cansado demais para ir à empresa. Passava por ele todos os dias como se, de algum modo, me despedisse de você pouco a pouco, cada vez que a ficha caía que nem seu computador de trabalho você viria buscar. Até para isso lhe faltou coragem. Me encontrar e confrontar todas as promessas que você não cumpriu parecia apavorante demais a você. Assumir seus erros, admitir que acabou com o restinho de confiança que existia entre nós: nada disso você fez.
Você não voltou porque sabia que ouviria coisas que não queria. Porque sabia que tinha errado. Porque também não se importava tanto. Você não voltou porque sempre foi moleque demais para arcar com as consequências dos próprios atos. Ao invés disso, apenas resolveu não voltar. Mandou uma mensagem depois, se desculpando, dizendo que um dia conversaríamos e você diria aonde tinha errado. Respondi que não precisava. Nunca precisou.
Onde você errava, eu sabia bem. Eu só queria poder lembrar dos seus acertos com a consciência tranquila, com as memórias felizes, com uma história bonita. Ao invés disto, só me restou a raiva por você nunca ter voltado. A raiva do dia que você não voltou.
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