Alma metade

O que é que esse cara tem de tão especial? Não sei. E que diabos essa menina tem, a ponto de mudar completamente a vida e a forma de pensar de um homem? Não são perfeitos, vejo falhas daqui. Mas eis que reina um constante questionamento de amigos e familiares que conheceram o passado vazio de ambos. Quer mesmo saber? Ela vê nele um ombro para chorar. Um carinho para cuidar. Uma ambição destrutiva inexistente. Uma pureza no sentir. Um desejo ardente que nunca encontrou em outros corpos e caras e drinks. Ela vê nele a calma, que acalma mais que qualquer blues. Ninguém sabe o que ela vê nele, porque só quem enxerga com os olhos dela é capaz de notar. Ela vê certo humor nas piadas sem graça e leves dele. E uma leveza que a tira do chão no encontro de olhares, mãos ou bocas. A sacanagem escondida na suavidade e ao mesmo escancarada porque isso também faz parte do que chamam de amor.

Quanto à ele? Bem, impossível explicar. Mas sente. E sente tanto. Cogita a possibilidade de quebrar a regra de que homem não chora se ela ameaçar ir embora. Pula o orgulho e de cabeça numa relação que não dispõe de gráficos e estatísticas como em seu trabalho. E, ainda assim, passa mais certeza de sucesso do que tudo. Ele vê meiguice num mar de escuridão. E intelecto em futilidades. Vê nela a chance de viver um romance como o de seus pais. Durável. Eterno. E descobre que o amor de verdade talvez não seja tão inalcançável assim. Se vê fazendo loucuras e sendo feliz de novo depois de tanto tempo se contentando com noites vazias de sentimentos sinceros e cheias de amores descartáveis. Olha para ela e deseja apagar seu passado, apenas para que ela não se assuste com o que tem por lá. Mas sabe que o caminho agora é em frente. Com ela.

Eles se olham e não sabem definir em apenas uma palavra o que os mantém tão unidos e firmes e estupidamente apaixonados. Ela tem plena convicção de que ele é tudo o que nenhum outro homem foi em sua vida: uma daquelas metades que tanto dizem, sabe? E ele? Descobriu logo cedo que jamais deixaria outro ocupar um lugar que, há vidas atrás, sempre foi seu.