Carta do 2º domingo de Maio

12 maio 2013


Ninguém nunca entendeu o porquê de eu dar um sorriso bobo enquanto olhava para ela. Ela, mesmo no auge de sua dureza, demonstrava alguma ternura em seu olhar perdido. Não a culpo por isso, sei que passamos maus bocados. A vida a tornou assim, dura como pedra. Deixou-a sozinha para que administrasse seu próprio caminho e de outras pessoas que estavam totalmente sem rumo. O que eu tenho a dizer sobre isso? Ela conseguiu. 

Quando eu era criança, minha mãe nunca "abria cara" para minhas amiguinhas de escola, nem me deixava ficar até tarde na rua. Custou deixar que minha irmã namorasse em casa e depois de muito custo liberou, mas só até as 22hrs e nos finais de semana. A mesma coisa comigo. Quando adolescente, nunca precisou chamar minha atenção para coisas relacionadas ao estudo, mas deixava claro que se precisasse, a coisa ficaria feia.

Nunca foi o tipo carinhosa, mas me lembro bem de me abraçar apertado no meio da noite quando entrei em crise e dizia o tempo todo que tinha medo de morrer. Eu estava com medo e minha heroína sabia lidar com isso mais do que ninguém. Me lembro de correr pra cama dela - mesmo depois de grande - após ter um pesadelo e saber que estava segura naquela cama enorme e acolhedora. Lembro-me dela entender meu silêncio e minha revolta depois de perder meu pai. Sei que ela, mais do que eu e minha irmã, sentiu muito mais a perda dele. Mas ainda assim nos protegeu.

Talvez eu não entendesse esse seu jeitão aos 13, mas hoje, sei que um dia espero ser metade da mãe que ela foi e é pra mim. Dos cuidados na doença, das broncas nos erros até nossas bebedeiras juntas hoje em dia. Tem coisa melhor que ter uma mãe-companheira? Eu sei que não. Tem mãe que ensina a filha a ser mimada, fútil e inútil. Minha mãe me ensinou a ser forte, a enfrentar meus próprios medos e curar minhas próprias cicatrizes. Ela segurou minha mão, enxugou minhas lágrimas e moldou a mulher que sou hoje. Às vezes, em meio as nossas tantas discussões no cotidiano, pode parecer raiva de irmã, birra de criança mimada ou qualquer outra coisa. Mas acredite, é só um jeito meu de chamar a sua atenção para o meu amor que é infinitamente maior que qualquer coisa infinita. Ele não cabe no meu peito. E espero que eu consiga transmitir 1% dele nessas palavras.



EU TE AMO, companheira.


Feliz dia das mães!



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