Ele saiu no meio do meu pavor para se tornar uma gargalhada inteira. Meu grito ecoou por toda rua quando um pastor alemão latiu, me tirando do planeta em que eu estava. Sabe quando você está andando lentamente e muito, mas muito distraída mesmo e de repente… TCHARAM! Vem um cachorro filho da mãe que ameaça te atacar. Me arrepiei por conta do susto. O grito alto e escandaloso saiu como consequência e sem vergonha. E aí, nesse exato momento, me vi despida de todas as minhas defesas e estereótipos. Eu, que sempre me julguei espontânea, precisei de um pastor alemão para soltar um grito verdadeiro e rir alto enquanto as pessoas me encaravam.
Estamos tão acostumados com o julgamento alheio, que nos aprisionamos em um casulo de onde só sai o que é aceitável. Mulher que é mulher senta de perna cruzada, se veste como uma lady, anda maquiada como uma Barbie, ri baixo, não fala nomes feios, tampouco pensa. A gente deixa de acreditar no que realmente é e acaba levando tudo assim. Seguindo assim. Fingindo assim. E quando somos pegas de surpresa por uma atitude estranhamente escandalosa e engraçada, nos sentimos bem.
Acontece que ninguém veio a esse mundo para ser um robô. Se você me irritar, provavelmente eu mande você ir se danar. A possibilidade de eu beber em um dia ruim é tão grande quanto meu ódio dessas coisas ensaiadas. Se eu bater o dedinho em alguma quina qualquer, é bem provável que eu mande um puuuuuuuuta queeeeeeee pariuuuuuuuu, porque às vezes só um xingamento traduz nossa raiva momentânea. Nós somos humanos, entende? E não há nenhuma lei de etiqueta no mundo inteiro que te dê tanta felicidade quanto uma reação natural.
As pessoas querem que sejamos ideais. Isso quer dizer, uma boa companhia, moça de família, boa namorada, esposa e mãe. Acontece que ser ideal não precisa ser, necessariamente, uma máquina entediante. Eu posso ser eu mesma e ainda assim ser legal. Posso ser divertida e ainda assim mulher. Se a vida se resumisse a essa busca pela monótona perfeição, todos já teríamos morrido de tédio. Então, não espere a chegada de um grito de pavor, para ver que pavor mesmo é não gritar. Seja de alegria ou indignação. De amor ou ódio. E perceba que o grito mais bonito e libertador que você pode dar, é esse que, como um desabafo, vem da alma.
Que coisa mais linda !! adorei.
ResponderExcluirMeu blog: tinha-que-acontecer.blogspot.com.br
Adorei o texto, parabéns! :D
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