Tarde demais

09 junho 2013

Ouvi o barulho da batida da porta e colei meu corpo no chão assimilando seu olhar frio que seguia em frente. Eu gritei com a alma para que você ouvisse, olhasse, falasse ou fizesse qualquer coisa que te fizesse parecer mais humano e mais sentimental, mas nada funcionou. Você seguiu adiante como havia dito e, sem sombra de dúvidas, tomou seu rumo e partiu. A questão aqui nunca foi o fato de você ir embora, mas sim o fato de nunca ter olhado para trás. Nem sequer por um segundo.


Eu li todas as revistas e livros e assisti a todos os filmes cults para ter assunto com você. Descobri mais sobre astrologia e sobre os planetas, mas nada disso funcionou. Eu engoli um dicionário inteiro e guardei minhas melhores metáforas para você, mas aí o que você fez? Virou as costas e não me deu nem uma olhadinha de canto de olho. Nadinha. E eu fiquei lá, agarrada ao meu último suspiro e de luto pelo nosso amor.


Continuei a ir nas reuniões dos nossos amigos. Todos eles me diziam que não te reconheciam mais e que eu não deveria sofrer tanto assim. A cada palavra de conforto, eu enfiava uma espada no meu peito que era pra tapar a dor de não te ter sentado naquela mesa. E me enchia de coragem para dar o sorriso mais covarde que poderia escapar da minha boca. Eu conseguia.


Me desculpei por todas as suas burrices e falhas diante deles. Assumi total responsabilidade pelo seus erros. Disse que eu era cheia desses sentimentos loucos e que quase sempre sufocam a gente. Disse também que eu era muito para sua mente livre e te livrei de todo e qualquer possível julgamento. Engoli o orgulho, vomitei um mundo de certezas e promessas que nem eu mesma sabia que existiam. E você? Não tentou nem espiar pelo buraco da fechadura. Nada de me encarar de vez e acabar com todo martírio.


Aí então eu resolvi aceitar o seu adeus que de tanto doer, não me doía mais e esquecer o seu olhar que não me viu. Sequei o rio de lágrimas que inundava todos os meus dias e comprei um óculos novo para enxergar melhor quem está perto. Observar mais essas pessoas próximas que realmente importam, sabe? E comecei a seguir em frente. Não como nesses surtos de adolescentes que acham que postar frases de desapego no facebook resolve alguma coisa. Doía, doía todos os dias. E eu me levantava cada vez mais forte. Curei todas as suas cicatrizes dia após dia, choro após choro. E num belo dia o sol brilhou mais forte. E as feridas? Bem, nem percebi que elas estavam ali. Me senti tão aliviada, tão curada, tão eu, que nem percebi que era você passando do meu lado.


E então, nesse dia, eu descobri que a vida é estranhamente e absurdamente irônica: nossos olhos se desencontraram. Porque, exatamente no dia em que eu resolvi olhar para frente, você olhou para trás. 

7 comentários:

  1. "E então, nesse dia, eu descobri que a vida é estranhamente e absurdamente irônica: nossos olhos se desencontraram. Porque, exatamente no dia em que eu resolvi olhar para frente, você olhou para trás." AMEIIIIIIIIIIIIIIIII, lindo!!!!!

    ResponderExcluir
  2. Adorei..me identifico bastante com alguns de seus textos!!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigada, Ketlyn! Fico feliz por saber que gostou <3

      Excluir
  3. Que texto lindo *-------* ai assim como todos os que você posta no teu blog lindo de morrer, sempre acompanho e acho o máximo, todo esse desapego, amor próprio inspiram qualquer pessoa, parabéns por tudo o que tem feito aqui ♥


    beijo
    adoravelrecomeco.com

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigada pelo carinho e por acompanhar o blog <333

      Excluir
  4. nossa esse texto ficou tão lindo, tão perfeito, parabéns, você é DEMAIS!

    ResponderExcluir

Raiane Ribeiro: Tarde demais © 2011 - 2015 - Todos os Direitos reservados
Desenvolvido por: Pamella Paschoal