Entre vazios e recomeços

02 julho 2012

Há um vazio em casa. Tem espaço demais na sala, buracos pelo quarto e minha cozinha não existe mais. Tem sua falta sobrando aqui. E não há nada que encha, preencha ou que substitua. Eu odeio o modo como seu desmazelo mexia comigo e me irritava. O modo como as músicas que são feitas para as pessoas "amarem mais" me deixa deprimida e com preguiça do mundo. O fato de eu não querer levantar da minha cama hoje só porque o dia está lindo demais lá fora e eu quero me afundar na minha tristeza interna, pra poder senti-la melhor, me irrita profundamente. Aí eu me lembro que já chorei por você, eu que nunca choro por ninguém, e me lembro que comprei chocolates, aluguei alguns filmes e te pedi para que ficasse mais um pouco. Você não entendeu que isso era raro e nunca mais aconteceria. Aliás, você não entendeu muitas coisas, mas você tinha que tentar.



Eu disse que você poderia ir embora, mas você devia ter parado e fechado aquela porta. Me lembro de te dizer também que essa era a última vez que sofria por você. Que ia me permitir sentir a dor de te ver ir embora para me acostumar com minha nova vida. Nova vida essa que eu nem planejei e deitada aqui, não tenho a mínima intenção de começar.
Eu não sinto falta da sua presença. Eu sinto falta da simplicidade que era amar. Eu sinto falta de te beijar com vontade depois de uma briga e rir do nosso ciúme idiota e sem motivos. Sinto falta de tragar seu cheiro, me embriagar com seu perfume e indagar nossa inexistência. Eu sinto falta da vontade de gritar ao mundo que alguém já me tirou o medo, a angústia e a solidão, e que esse alguém existe. Eu mesma não acreditava em sua existência e banalizei o sentimento, vulgarizei a espera, machuquei as pessoas que tentaram, em vão, ser você. Eles não eram, eles não conseguiram. 

A saudade chega de uma forma que te faz esquecer quem você é e pelo o quê você deveria lutar de verdade. Ela me fez esquecer meus ditados, minhas regras, listas de certo e errado, minhas frases clichês que não causam efeito chocante algum, mas que ajudam em todo o resto que ficou depois que você bateu a porta. Ela chega pra consolar, entristecer e, não menos importante, me fazer superar. E eu me lembro que preciso da minha dor para me sentir viva e para escrever e repetir sempre o mesmo dilema sentimental. E me lembro também que carregar essa nuvem negra faz parte de mim e do meu drama e da minha maneira de viver minha vida. Eu choro sangue, eu me derreto, eu me recomponho e recomeço meu ciclo. E é nessa minha necessidade de dor que encerro meu caminho para me colocar no seu. E é na minha entrega que eu me guardo. Porque eu sou o avesso de tudo o que você já viu ou sonha ver nessa vida. Ainda não descobri se o avesso é meu lado certo, mas sei que ele não serve para você, que pena. Porque eu preciso da minha mania de viver de bizarrices, então enxugo minhas lágrimas e apenas espero que o ciclo recomece.

Um comentário:

  1. "E é nessa minha necessidade de dor que encerro meu caminho para me colocar no seu. E é na minha entrega que eu me guardo." Lindo! Tocante! Tenta tirar um pouco desse ar adolescente em algumas frases, você tem potencial!

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